O passo começa o voo que vai do chão para o infinito. *Mário Lago

domingo, 13 de novembro de 2011

O que é namorar?


 O namoro é dinâmico como a própria vida das pessoas. Hoje, a liberdade é enorme quando se fala desse assunto, o que, aliás, torna-se ocasião para muitos desvirtuamentos em termos de  namoro. Coisas que para a geração anterior era impensável, hoje tornou-se comum entre os jovens; por exemplo, viajar juntos sem os pais; dormirem na mesma casa, etc. Se por um lado esta liberação pode até facilitar a maturidade dos jovens namorados, não há como negar que é uma oportunidade imensa para que o relacionamento deles ultrapasse os limites de namorados e precipite a vida sexual.

Lamentavelmente, tornou-se comum entre os casais de namorados a vida sexual, inadequada nesta fase. O  namoro, como já mostramos, é o tempo de conhecer o outro, escolher o parceiro com quem a vida será vivida até a morte, e é o tempo de crescimento a dois. Tudo isto será vivido através de um diálogo rico dos dois, pelo qual cada um vai se revelando ao outro, trocando as suas experiências e as suas riquezas interiores, e assim, começa a construção recíproca de cada um, o que continuará após o casamento. O namoro é acima de tudo o encontro de duas pessoas, capazes de pensar, refletir, cantar, sonhar, sorrir e chorar. O namoro implica no reconhecimento da “pessoa” do outro, a sua aceitação e a comunicação com ela. Você só poderá conhecer a pessoa pelo coração e pela revelação que ela faz de si mesma a você. É por isso que as comparações e os padrões rígidos podem ser prejudiciais. Você não pode querer que a sua namorada seja igual àquela moça que você conhece e admira; o seu namorado não tem que ser igual ao seu pai… Cada um é um. A liberdade é uma condição essencial da pessoa. Sem liberdade não há pessoa.

É no encontro com o outro que a pessoa se realiza; e aqui está a beleza do namoro vivido corretamente. Ele leva você a abrir-se ao outro. A partir daí você deixa de ser criança e começa a tornar-se adulto; porque já não olha só para si mesmo. O namoro é esse tempo bonito de inter-comunicação entre duas almas. Mas toda revelação implica num comprometimento de ambos e num engajamento de vidas. “Tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas”, disse o Pequeno Príncipe. Você se torna responsável por aquele que se revela a você do mais íntimo do seu ser.

Namorar é dialogar! O diálogo é mais do que uma conversa; é um encontro de almas em busca do conhecimento e do crescimento mútuo. Sem um bom diálogo não há um namoro feliz e bonito. É pelo diálogo que o casal – seja de namorados ou cônjuges – aprende a se conhecer, ajudam-se mutuamente a corrigir as suas falhas, vencem as dificuldades, cultivam o amor, se aperfeiçoam e se unem cada vez mais. Os namorados que sabem dialogar sabem escolher bem a pessoa adequada, fazendo uma escolha com lucidez e conhecimento maduro. Sem diálogo o casal não cresce, e o namoro não evolui, porque cada um fica trancado e isolado com os seus próprios problemas. Sem ele o casal pode cair na “crise do silêncio”, ou apenas trocar palavras vazias, ou ainda, o que é pior, discutir e brigar. Por falta do diálogo, muitas vezes, cada um leva a “sua” vida e ignora o outro; ora, isto não é vida a dois, nem preparação para o casamento. São muitas as dificuldades para o diálogo, mas há também muitos pontos que o favorecem. Vamos examiná-los. Muitos não conseguem dialogar porque não estavam habituados a isto antes do  namoro. Pode ser que tenha vindo de uma família que não tinha esse hábito. Neste caso, será preciso ter a intenção de dialogar, romper o mutismo e abrir-se. Também o orgulho, o medo de reconhecer os próprios erros, o não querer “dar o braço a torcer”, a vaidade de querer sempre ter razão, bloqueiam o diálogo. A falta de tempo, o trabalho em demasia, a televisão, o jornal, a revista, a internet, podem prejudicar o diálogo; se não forem dosados…

Há também os condicionamentos de infância; às vezes a autoridade excessiva dos pais, a falta de liberdade para expressar as próprias idéias e opiniões; a super proteção que sufocou o espírito de iniciativa; a falta de participação nas soluções dos problemas familiares; tudo isto dificulta o diálogo. Portanto, será preciso esforço, vontade de vencer-se e acertar. Para haver diálogo você precisa aprender a ouvir o outro; ter paciência para entender o que ele quer dizer, e, só depois, concordar ou discordar. Seja paciente, não corte a palavra do outro antes dele completá-la. Lembre´se, diálogo não é discussão. É preferível “perder” uma discussão do que dominar o outro. Dialogar é acolher o outro com o coração disponível. É aprender a “olhar” o outro, conhecer sua vida profissional, familiar, seus gostos, suas aspirações, dificuldades, lutas… com respeito e atenção. Deixe que o outro tenha “entrada franca” no coração.

O diálogo exige gratuidade. Se você estiver nervoso, preocupado, irritado e de mau humor, então, pegue tudo isto e entregue a Deus, na fé, para estar disponível. O mau humor, a lamúria, a constante reclamação, são venenos mortais para o diálogo e o relacionamento. Saiba caminhar em direção ao outro, estenda-lhe a mão para ajudá-lo a entrar em você. Se ele vier a você cheio de problemas e angústias, não tenha pressa em querer dar-lhe a solução mágica para as suas dores. Não, apenas deixe que ele se esvazie; deixe-o falar; só depois, quando ele tiver “posto tudo para fora”, só então, você lhe dirá uma palavra amiga, e de conforto. A grande necessidade das pessoas hoje é ter alguém que as ouça com tempo e disponibilidade.

Talvez agora você esteja começando a entender porque o diálogo autêntico é o instrumento indispensável para que você possa descobrir as riquezas que estão escondidas no interior da pessoa que você ama. Tudo que se faz de bom exige sacrifícios e tem um preço. Para que o casal cresça no namoro, têm que pagar o preço da renúncia ao próprio ego soberbo e arrogante, prepotente e asqueroso, exibicionista ou cheio de amor próprio. No diálogo, preocupe-se em procurar e apresentar a verdade, mas não a sua verdade. A verdade é objetiva. Não podemos nos perder em raciocínios vazios e devaneios subjetivos que nos afastam da verdade subjetiva e da responsabilidade.

Namorar é isto! Na medida que o tempo for passando, o diálogo for amadurecendo, e o namoro for se firmando, então será necessário conversar sobre as coisas do futuro, para se saber quais as aspirações que cada um traz no coração, e se elas se coadunam mutuamente. Não se trata de ficar sonhando no vazio sobre o futuro, mas de começar a escolher e a preparar a vida que ambos vão viver e construir amanhã: a família, os filhos, etc. Nada de real se faz nesta vida sem um sonho, um projeto, um plano e uma construção. Se de um lado, sonhar no vazio é uma doce ilusão, refletir sobre o que se quer construir no futuro é uma necessidade. É assim que nasce um lar.
 
*Gabriel Chalita
Imagem: Google
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